Uma historia de amor
Era uma vez uma família chamada Yaoya. Eles viviam em Edo, que hoje em dia é a cidade de Tóquio, e eram grandes quitandeiros. No ano de 1667, nasceu a menina Oshichi, que tornava-se uma bela jovem com o passar dos anos. Um belo dia, a casa dos Yaoya pega fogo. Isso foi em 1682, durante o grande incêndio que arrasou Edo, chegando mesmo até a periferia da cidade. Naquele mesmo incêndio, muitas casas foram detruídas, inclusive a choupana de Matsuo Basho, um famoso poeta japonês. As construções eram de madeira e muito aglomeradas, por isso era comum que o fogo se alastrasse pela antiga Edo, assim como em outras partes do país...
Assim, entristecida, a família se refugia num templo budista, que existe até hoje, chamado Chomyo-ji. Lá, os Yaoya esperaram a reconstrução de sua morada, que não tardaria muito. Durante sua estadia ali, Oshichi, que então contava 15 anos de idade, conhece um monge recluso de nome Shinosuke Ikuta, jovem e bonito. Os dois logo se apaixonam. Porém, o amor que nasceu entre eles era um amor proibido e impossível. Pelas regras dos monges, não poderia ele dedicar seu coração a mulher alguma, pois quem trabalhava no templo deveria dar seu amor apenas a causas religiosas e humanitárias, e não namorar ou casar-se. Também a família da moça não aprovaria sua união com o monge.
Quando a casa ficou pronta, os Yaoya voltaram a morar ali, afastando-se do templo. A moça foi com eles, e desde aquele momento deveria conformar-se em viver longe de seu amor. Mas não seria isso que ela faria. Em 1683, Oshichi têm uma ideia: queimar a casa novamente, e assim voltar a viver no templo, junto a Shinosuke. Na época da florada de cerejeiras (sakurá) daquele ano, ela conclui o seu plano; o que provocou essa atitude extrema de sua parte fora o imenso sentimento de carinho e de saudade que ela nutria por Shinosuke. No entanto, o fogo não somente destruiu outra vez sua casa, como também as habitações vizinhas, e sua própria mãe encontrou a morte nas chamas, coisa que a jovem jamais esperaria que acontecesse. Consciente de ter cometido um crime, ela se entrega às autoridades. Estava mais arrasada que as próprias casas que foram queimadas... E ela sabia como era a lei daqueles tempos: incendiários menores de quinze anos seriam condenados ao exílio numa ilha distante, e maiores receberiam a pena capital, morte na fogueira. Ela já tinha 16 anos.
O juiz que a julgou teve pena dela, apiedou-se de sua história. Perguntou-lhe: "Qual a tua idade?" Esperava que ela mentisse. Porém não, Oshichi preferiu dizer a verdade. "Eu tenho dezesseis". Ela escolheu a morte. Morta, reencontraria sua mãe, pedindo-lhe perdão e finalmente poderia esperar por seu amado, com o qual sonhara todas as noites sem poder chegar perto... Foi conduzida a uma estaca, no meio de um campo de cerejeiras em flor.
Oshichi com Shinosuke, quadro do artista Kitagawa Utamaro |
Dizem que quando as primeiras flores de cerejeira aparecem no templo Chomyo-ji, o espírito de Oshichi está feliz, ao lado do monge Shinosuke. As pessoas visitam o templo de Enjou-ji, no bairro de Toshima, e depositam flores no túmulo da moça, e como ela foi morta no fogo, jogam água por cima de seu sepulcro.
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