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domingo, 24 de outubro de 2010

Uma História de Amor

Uma historia de amor


 Era uma vez uma família chamada Yaoya. Eles viviam em Edo, que hoje em dia é a cidade de Tóquio, e eram grandes quitandeiros. No ano de 1667, nasceu a menina Oshichi, que tornava-se uma bela jovem com o passar dos anos. Um belo dia, a casa dos Yaoya pega fogo. Isso foi em 1682, durante o grande incêndio que arrasou Edo, chegando mesmo até a periferia da cidade. Naquele mesmo incêndio, muitas casas foram detruídas, inclusive a choupana de Matsuo Basho, um famoso poeta japonês. As construções eram de madeira e muito aglomeradas, por isso era comum que o fogo se alastrasse pela antiga Edo, assim como em outras partes do país...

 Assim, entristecida, a família se refugia num templo budista, que existe até hoje, chamado Chomyo-ji. Lá, os Yaoya esperaram a reconstrução de sua morada, que não tardaria muito. Durante sua estadia ali, Oshichi, que então contava 15 anos de idade, conhece um monge recluso de nome Shinosuke Ikuta, jovem e bonito. Os dois logo se apaixonam. Porém, o amor que nasceu entre eles era um amor proibido e impossível. Pelas regras dos monges, não poderia ele dedicar seu coração a mulher alguma, pois quem trabalhava no templo deveria dar seu amor apenas a causas religiosas e humanitárias, e não namorar ou casar-se. Também a família da moça não aprovaria sua união com o monge.

 Quando a casa ficou pronta, os Yaoya voltaram a morar ali, afastando-se do templo. A moça foi com eles, e desde aquele momento deveria conformar-se em viver longe de seu amor. Mas não seria isso que ela faria. Em 1683, Oshichi têm uma ideia: queimar a casa novamente, e assim voltar a viver no templo, junto a Shinosuke. Na época da florada de cerejeiras (sakurá) daquele ano, ela conclui o seu plano; o que provocou essa atitude extrema de sua parte fora o imenso sentimento de carinho e de saudade que ela nutria por Shinosuke. No entanto, o fogo não somente destruiu outra vez sua casa, como também as habitações vizinhas, e sua própria mãe encontrou a morte nas chamas, coisa que a jovem jamais esperaria que acontecesse. Consciente de ter cometido um crime, ela se entrega às autoridades. Estava mais arrasada que as próprias casas que foram queimadas... E ela sabia como era a lei daqueles tempos: incendiários menores de quinze anos seriam condenados ao exílio numa ilha distante, e maiores receberiam a pena capital, morte na fogueira. Ela já tinha 16 anos.

 O juiz que a julgou teve pena dela, apiedou-se de sua história. Perguntou-lhe: "Qual a tua idade?" Esperava que ela mentisse. Porém não, Oshichi preferiu dizer a verdade. "Eu tenho dezesseis". Ela escolheu a morte. Morta,  reencontraria sua mãe, pedindo-lhe perdão e finalmente poderia esperar por seu amado, com o qual sonhara todas as noites sem poder chegar perto... Foi conduzida a uma estaca, no meio de um campo de cerejeiras em flor.
Oshichi com Shinosuke, quadro do artista  Kitagawa Utamaro
 Dizem que quando as primeiras flores de cerejeira aparecem no templo Chomyo-ji, o espírito de Oshichi está feliz, ao lado do monge Shinosuke. As pessoas visitam o templo de Enjou-ji, no bairro de Toshima, e depositam flores no túmulo da moça, e como ela foi morta no fogo, jogam água por cima de seu sepulcro.

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